Resenha Critica / Arthur Vieira
. Autor: Machado de Assis
. Ano de publicação: 1881 (originalmente em folhetim na Revista Brasileira e depois em livro)
. Gênero: Romance; sátira; realismo
. Narrador: 1ª pessoa (narrador-personagem defunto)
. Estilo: Irônico, filosófico, fragmentado
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Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro que teve um impacto significativo na literatura brasileira, tanto por sua estrutura inovadora quanto por seu conteúdo incisivo e corrosivo. Publicada em 1881 e escrita por Machado de Assis, a obra marca o início do realismo no Brasil, quebrando com os ideais românticos que predominavam no cenário literário da época.
Brás Cubas, um membro da elite carioca, é o narrador que, após sua morte, opta por relatar sua vida sem as amarras das normas sociais. Essa condição de "defunto-autor" possibilita que ele narre com liberdade, sarcasmo e uma sinceridade brutal, revelando suas vaidades, fracassos e inutilidades — e, com isso, também as da sociedade em que estava inserido.
Durante o romance, Brás nos conduz por episódios significativos (e frequentemente absurdos) de sua vida: o amor por Virgília, a tentativa de criar um remédio milagroso, as relações superficiais com amigos, o desdém pelos menos favorecidos e a visão indiferente em relação à escravidão. Em tudo, há uma ironia persistente e uma perspectiva desencantada sobre a existência humana.
A principal força da obra reside precisamente nessa ironia mordaz, que desmantela convicções, ridiculariza valores consagrados e expõe o vazio de muitas aspirações sociais. Machado elabora uma crítica contundente às aparências e às instituições daquele período — política, família, religião — utilizando uma escrita refinada, sutil e perspicaz.
A obra é considerada moderna e muito à frente de seu tempo devido à sua estrutura fragmentada, capítulos curtos e provocativos, comentários metalinguísticos e diálogo direto com o leitor. Machado não se limita a contar uma história: ele desafia o próprio ato de narrar, assim como os limites da memória, da verdade e da moral.
Ao final, Brás Cubas não se redime, não se arrepende e não adquire nenhum aprendizado. Ele morre da mesma forma que viveu: um homem vaidoso e fútil, porém lúcido o bastante para rir de si mesmo e da sociedade que o criou. E talvez essa seja a maior genialidade do livro: a crítica não surge do herói, mas de seu completo insucesso.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra literária fundamental. Com humor mordaz e precisão cirúrgica, Machado de Assis nos convida a explorar a alma humana — e o que encontramos nem sempre é belo. Porém, é verdade. Um clássico atemporal, pois aborda vaidades e misérias que permanecem relevantes.
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