Murderbot, adaptação para a televisão da aclamada série literária de Martha Wells, apresenta uma ficção científica concisa, sarcástica e surpreendentemente tocante. Nos dois primeiros episódios, a série não apenas introduz de maneira eficaz o cenário futurista corporativo que serve de cenário, mas também define com exatidão o perfil do seu protagonista - uma máquina de segurança com sentimentos humanos mal resolvidos e um vício em romances espaciais.
A Máquina Que Preferia Não Estar Aqui
O Murderbot, interpretado com precisão estoica por Alexander Skarsgård, é uma unidade de segurança que, após invadir seu próprio sistema de controle, adquire uma forma ambígua de livre-arbítrio. No entanto, essa liberdade não o conduz a uma revolução: ele opta por desconsiderar os humanos e ver séries de entretenimento barato. Portanto, a graça reside nesse constante contraste entre o que se espera de um herói (ou anti-herói) e o que ele realmente deseja ser — ou, melhor ainda, não ser.
Nos dois episódios iniciais, seguimos uma expedição científica a um planeta distante, onde Murderbot é encarregado de salvaguardar um conjunto de cientistas de perigos desconhecidos. Simultaneamente, ele batalha contra suas próprias tendências: a vontade de evitar o contato humano, a necessidade de entender emoções e o trauma silencioso de um passado violento.
Humor seco, ação tensa, coração escondido
A série faz um bom uso da narração interna do personagem principal, um recurso crucial nos livros. A maneira monótona e sarcástica como Murderbot descreve suas ações e os humanos à sua volta acentua o caráter cômico do absurdo: ele é o ser mais autoconsciente do local, mesmo sem saber como utilizar essa autoconsciência.
A produção visivelmente prioriza efeitos práticos, sempre que possível, e acerta em cheio no design da produção. Os cenários são práticos e simples, combinando perfeitamente com o universo empresarial abordado. As cenas de ação são rápidas, porém eficientes, e o segundo episódio apresenta uma batalha tensa e bem coreografada — não pelo exagero, mas pela moderação.
Diálogos e personagens
Ainda há pouco espaço para os coadjuvantes humanos se destacarem, mas existem indicações promissoras, particularmente na Dra. Mensah, interpretada por Noma Dumezweni, parece ter notado algo atípico na postura da máquina. Os diálogos são curtos, frequentemente interrompidos pela impaciência de Murderbot, o que favorece a leveza dos episódios, ambos com duração inferior a 30 minutos.
Veredito parcial
Murderbot inicia com firmeza e encanto. Ainda é prematuro para avaliar a complexidade do enredo principal, contudo, a série se destaca no que é mais relevante: o personagem principal. Os dois primeiros episódios, com um protagonista que detesta protagonistas e uma trama que ridiculariza os clichês da ficção científica, criam algo inédito, divertido e surpreendentemente comovente.
Classificação parcial: 8,5/10
Ressalvas: Performance de Skarsgård, senso de humor interno, ambiente econômico e eficiente.
Preste atenção: O ritmo pode parecer "light demais" para aqueles que esperavam algo mais épico ou dramático desde o começo.
Já tem resenha do primeiro livro, caso tenha interesse: Resenha do Livro 1
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