HQ: Condado Maldito

Escrito por Arthur Vieira

. Título original: Harrow County, Volume 1: Countless Haints
. Roteiro: Cullen Bunn
. Arte: Tyler Crook
. Editora original: Dark Horse Comics (EUA)
. Editora brasileira: DarkSide Books
. Gênero: Terror, Horror Folclórico, Quadrinhos de Horror
. Volume 1 de 8

Resenha

O primeiro volume de Condado Maldito, de Cullen Bunn e Tyler Crook, apresenta um universo obscuro que combina terror folclórico com uma atmosfera gótica do sul.  A história se concentra em Emmy, uma jovem de 18 anos que reside em uma comunidade rural remota, marcada por superstições e memórias de uma bruxa antiga que prometeu retornar antes de ser queimada viva.  Desde o começo, há a incerteza sobre a protagonista ser a reencarnação da bruxa ou uma vítima do destino que lhe foi atribuído.

A intensidade da obra está na maneira como Bunn conduz o suspense: não há urgência em desvendar os mistérios, mas sim uma construção gradual e perturbadora do medo.  O texto é repleto de silêncios e insinuações, permitindo que o leitor questione os personagens e o ambiente, em que cada árvore aparenta guardar um segredo.  O condado não é apenas um cenário, mas um personagem vivo — um território amaldiçoado que forma seus habitantes.

A arte de Tyler Crook é um elemento distintivo.  As aquarelas de sua autoria conferem ao horror uma delicadeza paradoxal: cores vibrantes contrastam com representações de decomposição, espectros e violência, resultando em uma beleza inquietante.  O estilo varia entre o infantil e o grotesco, enfatizando a noção de um mundo em que a inocência de Emmy coexistem com monstros de origens ancestrais.  Essa ambiguidade visual confere ao quadrinho um aspecto quase onírico, assemelhando-se a uma lenda contada ao redor de uma fogueira.

No campo temático, Condado Maldito se destaca por articular medo do diferente, herança maldita e livre-arbítrio. Emmy é ao mesmo tempo esperança e ameaça, e a comunidade a vê com olhos desconfiados, refletindo um traço muito humano: o desejo de controlar o que não compreende. Há uma crítica implícita à perseguição de mulheres sob o rótulo de “bruxaria”, mas sem cair no didatismo — o terror cumpre esse papel ao evidenciar a brutalidade da superstição.

Como volume de abertura, a história em quadrinhos cumpre seu papel de forma satisfatória: constrói um universo cheio de tensão, apresenta personagens envolventes e termina com um gancho que motiva o leitor a continuar.  Não se trata de um terror fundamentado em sustos, mas de uma angústia que se insinua gradualmente, como raízes que se difundem pelo terreno.

Em resumo, o primeiro volume de Condado Maldito é uma estreia robusta, que combina uma narrativa envolvente com uma estética visual impressionante.  Trata-se de uma obra que resgata o folclore do sul para criar algo inédito, ao mesmo tempo belo e aterrorizante, evidenciando como os quadrinhos podem ser um meio sofisticado para o horror.

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