Comparação: Animação vs HQ - Superman: Entre a Foice e o Martelo
Superman: Entre a Foice e o Martelo (Red Son, no original) é uma das histórias mais aclamadas do selo Elseworlds da DC Comics. Nela, é apresentada uma realidade alternativa em que o Superman não cai no Kansas, mas sim na União Soviética. A história em quadrinhos, escrita por Mark Millar e lançada em 2003, recebeu uma versão animada em 2020, produzida pela Warner Bros. Animação. Apesar de partirem do mesmo ponto, as diferenças entre quadrinho e animação são notáveis em termos de tom, estrutura narrativa e profundidade ideológica.
Fidelidade e alterações narrativas
A história em quadrinhos original é composta por três partes e abrange várias décadas da história desse universo alternativo. Millar organiza a história como uma crítica ao totalitarismo e uma reflexão sobre como as ideologias moldam heróis e vilões. A história explora de maneira sutil os conflitos de Superman ao comandar a URSS e confrontar o ideal americano representado por Lex Luthor. Há espaço para reflexões filosóficas e um desfecho inesperado, que insere a trama em um ciclo temporal.
Por outro lado, a animação adapta o arco principal de maneira mais direta e simplificada. Ela condensa eventos, deixa de fora personagens secundários relevantes (como o Superman bizarro ou o Batman com maior profundidade ideológica) e modifica algumas motivações para deixar a trama mais dinâmica. Por exemplo, o final muda drasticamente: o ciclo de viagem no tempo é descartado e o desfecho se torna mais tradicional e moralista, simplificando a complexidade apresentada na HQ.
Personagens e ideologia
Na história em quadrinhos, os personagens são ambíguos. Mesmo sendo soviético, Superman não é um vilão. Ele pensa que está fazendo o bem, mas acaba caindo nas armadilhas do autoritarismo. Por outro lado, Lex Luthor inicia como antagonista, porém acaba simbolizando um contraponto essencial ao poder absoluto. A narrativa questiona a noção de que boas intenções podem levar à criação de regimes opressivos.
Na animação, as representações são mais polarizadas. Superman se assemelha mais a um tirano do que a um idealista desiludido, enquanto Luthor assume um papel quase heroico, atenuando a crítica que a HQ direciona tanto ao comunismo quanto ao imperialismo. Em prol de uma narrativa mais maniqueísta, a ambiguidade é sacrificada.
Estilo visual e atmosfera
As histórias em quadrinhos de Dave Johnson e Kilian Plunkett apresentam uma estética que combina realismo com elementos estilizados, fazendo alusão à arte de propaganda soviética. A atmosfera opressiva e distópica é reforçada pelas cores frias, pelo uso simbólico da foice e do martelo e pela construção dos cenários.
Apesar de ser competente, a animação escolhe um estilo mais convencional, seguindo as tendências das animações recentes da DC, o que a faz parecer menos distinta visualmente. A ambientação soviética é apresentada de maneira funcional, porém sem o mesmo efeito simbólico e estilístico da história em quadrinhos.
Veredito final
A animação Superman: Entre a Foice e o Martelo serve como uma introdução compreensível ao conceito de mundo alternativo da narrativa original. É direta, visualmente atraente e serve como entretenimento.
No entanto, a história em quadrinhos de Mark Millar se sobressai por sua ousadia temática, profundidade ideológica e desfecho marcante. Ao amenizar o discurso político e diminuir a ambiguidade moral, a animação acaba perdendo parte da intensidade que fez com que o material original se tornasse uma obra-prima do Elseworlds.
A HQ é indispensável para aqueles que buscam uma reflexão política e uma narrativa instigante. Para aqueles que buscam apenas um divertido "e se..." com super-heróis, o filme serve como uma boa introdução.
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