HQ: Superman Entre a Foice e o Martelo

. Título original: Superman: Red Son
. Roteiro: Mark Millar
. Arte: Dave Johnson, Kilian Plunkett
. Editora: DC Comics (EUA) / Panini (Brasil)
. Gênero: Ficção científica, política, super-herói, distopia
. Link: Quadrinho


E se o Superman lutasse pela União Soviética?

Lançado originalmente em 2003, Superman: Red Son — conhecido no Brasil como Entre a Foice e o Martelo — é uma criação de Mark Millar, com ilustrações de Dave Johnson e Kilian Plunkett. A história coloca o símbolo máximo do heroísmo americano em um universo governado pela ideologia comunista.  O resultado é uma distopia política poderosa e provocadora que desafia os princípios morais e simbólicos associados à figura do Superman.

Um herói criado sob a foice e o martelo

A ideia é simples, mas brilhante: e se a nave kryptoniana de Kal-El tivesse pousado na Ucrânia soviética em vez de no Kansas?  O bebê alienígena é educado sob a supervisão do Estado comunista, transformando-se no defensor do proletariado global, um ícone da supremacia soviética e principal aliado de Stálin.

A partir desse ponto, a trama se desenvolve em três atos, cada um ambientado em uma época histórica diferente, e segue a ascensão do Superman como líder supremo de uma URSS que cresce politicamente ao redor do mundo, enquanto lida com perigos internos e externos. Entre esses desafios está a figura do cientista americano Lex Luthor, reinventado como o maior gênio do planeta e o opositor ideológico do Homem de Aço.

Uma HQ política, não panfletária

Embora tenha um contexto político, Entre a Foice e o Martelo não é um trabalho panfletário.  Millar evita o maniqueísmo simplista, apresentando a URSS sem idealizações e os EUA sem a imagem de redentores.  O Superman de Red Son é um herói trágico que acredita sinceramente estar salvando o mundo, mas acaba se tornando um tirano benevolente, exercendo controle sobre todos os aspectos da vida humana, desde o trabalho e alimentação até a imprensa e pensamento.

Por outro lado, Lex Luthor simboliza o gênio capitalista sem restrições morais, obcecado em derrotar o Superman para demonstrar a supremacia do homem sobre o "deus".  O conflito entre os dois personagens retrata a batalha entre duas perspectivas de mundo, evitando soluções simplistas.

Releituras e simbologias

Um dos destaques da HQ reside em suas interpretações alternativas de personagens clássicos:

1 - O Batman soviético é um guerrilheiro anarquista, originado de um trauma provocado pelo regime, representando a resistência interna.

2 - Embora mantenha seu idealismo, a Mulher-Maravilha se sente frustrada com o autoritarismo de Superman.

3 - O Corpo dos Lanternas Verdes aparece como uma arma dos Estados Unidos, comandado por Hal Jordan.

Esses componentes aprofundam o universo paralelo, trazendo ressonâncias do mundo original da DC e introduzindo novas dimensões de significado.

Arte e ambientação

A arte de Dave Johnson e Kilian Plunkett retrata de forma eficaz o clima gelado e opressivo da ambientação soviética.  O uso de cores dessaturadas, design retro-futurista e traços marcantes ajuda a criar um mundo que aparenta estar sempre à beira de um colapso.  O realismo socialista exerce uma forte influência na estética, em contraste com o visual vibrante e otimista dos quadrinhos convencionais do Superman.

 O desfecho: círculo e crítica

O desfecho da HQ é surpreendente e audacioso: além de encerrar a trajetória dos personagens, Millar sugere uma releitura temporal cíclica, na qual o destino do Superman e da humanidade se entrelaça em uma espiral interminável.  Trata-se de uma metáfora audaciosa a respeito do poder, progresso e reincidência dos erros humanos, com ressonâncias filosóficas e científicas (incluindo um elemento de ficção especulativa).

Veredito Final

Superman: Entre a Foice e o Martelo é uma obra que vai além do gênero dos quadrinhos de super-heróis.  É uma ficção política madura, instigante e perspicaz, que emprega a figura do Superman para investigar os conflitos relacionados ao poder, à liberdade e à ideologia.

Além disso, é uma crítica ao conceito do "salvador benevolente" — seja ele estatal, divino ou extraterrestre — que, apesar de suas boas intenções, pode acabar comprometendo a autonomia humana.  Com uma narrativa afiada, ritmo cativante e um desfecho inesquecível, a HQ continua sendo uma das melhores histórias alternativas já criadas sobre o Homem de Aço.

Link: Quadrinho

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