. Direção: Joseph Kosinski
. Duração: 2h 35min
. Roteiro: Ehren Kruger
. Elenco: Brad Pitt, Damson Idris, Javier Bardem
Resenha
Um blockbuster que coloca o espectador no cockpit
Após rejuvenescer o gênero de ação aérea com Top Gun: Maverick, Joseph Kosinski deixa os céus de lado e traz para as pistas a mesma dedicação técnica voltada ao automobilismo. Filmado durante Grandes Prêmios reais, com total apoio da FIA e de todas as equipes, a F1 utiliza câmeras instaladas nas asas, na suspensão e até dentro do halo para proporcionar uma experiência de imersão raramente encontrada no gênero. A fotografia de Claudio Miranda (vencedor do Oscar por Life of Pi) combina texturas de IMAX com closes quase claustrofóbicos no cockpit, permitindo que o público “experimente” as forças-G em cada curva. O resultado é eletrizante, especialmente nas corridas de Silverstone e Abu Dhabi, e já se estabelece como um novo padrão para filmes de velocidade.
Som e música: motores que viram sinfonia
Hans Zimmer cria uma trilha sonora que vibra como um motor V6 turbo: camadas de sintetizadores, percussões tribais e metais imponentes aceleram ou desaceleram junto com os veículos. Além de costurar samples de rádios de box e ruídos de potência que remetem a Rush, o compositor cria temas que se desenvolvem à medida que as rivalidades na pista aumentam. Essa trilha se integra ao projeto F1 - The Album, em que artistas pop como Don Toliver e Rosé reinterpretam os temas de Zimmer, expandindo a experiência além das salas de cinema. Trata-se de uma obra criativa e audaciosa, na qual a mixagem de som assume o papel principal.
Atuação: carisma veterano x energia novata
Com 61 anos, Brad Pitt interpreta Sonny Hayes com uma combinação de ironia cansada e determinação física. Ele tem consciência de seu passado como galã, e o filme faz brincadeiras a respeito, especialmente nas provocações entre Sonny e o promissor Joshua Pearce (Damson Idris). Idris infunde arrogância e vulnerabilidade de forma equilibrada, estabelecendo um contraste interessante com o mentor. Kerry Condon, interpretando a engenheira aerodinâmica Kate, proporciona momentos de drama e humor seco, enquanto Bardem se diverte como o proprietário de uma equipe medíocre e desesperada. Trata-se de um elenco afiado, capaz de dar credibilidade aos bastidores altamente competitivos da F1.
Roteiro: combustível de clichês
Enquanto a engenharia visual é de ponta, o roteiro de Ehren Kruger deixa a desejar. A trama segue a clássica jornada de redenção: um veterano problemático retorna, treina um pupilo, confronta seus demônios internos e busca a glória final. Reviravoltas e diálogos expositivos detalham tecnologias e regras da categoria — úteis para iniciantes, mas cansativos para os fãs de longa data da F1. Ademais, o relacionamento de Sonny com a engenheira não tem profundidade, e alguns enredos, como o trauma que afasta Hayes das pistas, ficam sem desenvolvimento.
Temas: nostalgia, sucessão e espetáculo
Embora seja previsível, o filme aborda questões atuais do esporte:
1 - Comercialização intensa — há referências à "Netflixização" da F1, com exibição mundial e forte investimento em marketing.
2 - Choque de gerações — a transição entre Hayes e Pearce aborda a relação entre tradição e inovação, refletindo a chegada de novas audiências jovens.
3 - Risco humano — acidentes coreografados com brutal verossimilhança evidenciam a fragilidade da linha entre heroísmo e tragédia.
Comparações e legado
Enquanto Rush (2013) apostou no confronto psicológico entre Lauda e Hunt e Ford v Ferrari (2019) se concentrou na engenharia, F1 destaca a vivência sensorial, com imagem e som como protagonistas. Embora o enredo repetitivo impeça o filme de superar seus predecessores, o impacto audiovisual estabelece um novo padrão para filmes esportivos. Há rumores de que a Apple use o sucesso como vitrine para competir pelos direitos de transmissão da F1, evidenciando que a produção vai além do cinema e faz parte da estratégia de mídia esportiva global.
Veredito
A F1 é um espetáculo intenso que coloca o espectador no lugar do piloto e faz o coração acelerar no ritmo das voltas mais rápidas. Embora não reinvente o drama esportivo, ele eleva a linguagem visual do gênero a um novo patamar e apresenta atuações convincentes. Se o roteiro muda de direção tarde demais, o filme compensam com cenas impressionantes e uma trilha sonora que faz o filme essencial para os amantes da velocidade e um cartão de visitas atraente para aqueles que ainda não compreendem por que a Fórmula 1 é, de fato, puro cinema.
Muito bom o texto e seu ponto de vista é incrível. Eu não tenho uma percepção tão rica ou elevada como a sua, o que me surpreende positivamente 🤌🏽
ResponderExcluirVocê brilhou nesse texto, parabéns!!!!
Os pontos levados em consideração são ótimos e, de fato, ficaram algumas pontas soltas.
Hamilton aparece timidamente no filme, eu penso que poderia aparecer um pouquinho mais dando mais credibilidade ao filme.
O filme ostenta o título de esporte de luxo, pois tudo é financeiramente caro, tecnológico e carrega um ar de status.